*Por Rodrigo Cerveira
Enquanto marcas lutam contra o “buraco negro” de $ 2.8 bilhões em Brand Safety, uma revolução silenciosa está redefinindo completamente as regras do jogo: a Answer Engine Optimization (AEO). Se você pensava que proteger sua marca no digital era complexo, prepare-se para um cenário onde agentes de IA decidem se sua marca será mencionada na resposta definitiva que 400 milhões de usuários recebem semanalmente.
A publicidade digital vive um paradoxo duplo. Por um lado, ferramentas de Brand Safety bloqueiam incorretamente 57% do conteúdo jornalístico seguro, custando bilhões aos editores. Por outro, um em cada dez usuários americanos agora recorre primeiro à IA generativa para buscar informações online. O resultado? Marcas estão perdendo dinheiro protegendo-se de riscos tradicionais enquanto se tornam invisíveis no futuro da busca.
Hoje, AI Overviews aparecem em 16% de todas as buscas desktop no Google americano. Quando alguém pergunta ao ChatGPT “Qual a melhor ferramenta de gestão de projetos?” ou consulta o Google AI sobre redução de churn, recebe uma resposta única e sintética que menciona apenas algumas marcas selecionadas. Estar nessa resposta não é mais luxo, é sobrevivência.
Aqui está o dilema: as mesmas estratégias ultraconservadoras de Brand Safety que bloqueiam conteúdo legítimo também podem estar sabotando sua visibilidade em agentes de IA. Quando o Wall Street Journal perde publicidade em 20% de seu conteúdo devido às listas de palavras-chave restritivas, imagine o impacto na capacidade dos agentes de IA citarem essas fontes autoritativas.
A correlação é direta! 70% a 80% dos consumidores reagem negativamente a adjacências inadequadas, mas agora precisamos considerar que agentes de IA aprendem dessas mesmas fontes “seguras” que estamos bloqueando excessivamente. É como treinar um assistente pessoal com metade da biblioteca censurada.
Answer Engine Optimization não é apenas SEO reformulado. É uma disciplina completamente nova, que exige repensar Brand Safety. Quando um agente de IA sintetiza informações de múltiplas fontes para criar uma resposta única, ele pode inadvertidamente, como associar sua marca a contextos não intencionais ao combinar informações de fontes diferentes; perpetuar vieses ou informações desatualizadas presentes nos dados de treinamento; criar adjacências de marca imprevistas ao mencionar concorrentes na mesma resposta; amplificar informações incorretas se as fontes primárias contiverem erros.
Lembra da tendência de marcas relaxarem diretrizes para abraçar criadores autênticos? Agora, isso ganha uma nova dimensão. Agentes de IA frequentemente citam conteúdo de criadores e influenciadores como fontes de informação. O coletivo AMP, que mantém parcerias milionárias, apesar de conteúdo provocativo, pode ter suas declarações citadas por ChatGPT em respostas sobre gaming ou entretenimento, por exemplo.
A FaZe Clan, com seu relançamento explicitamente “edgy”, corre o risco de ter suas controvérsias amplificadas quando agentes de IA respondem perguntas sobre esportes ou cultura gamer, 92% dos consumidores param de se engajar após interações negativas. Imagine quando essa interação negativa vem de uma resposta de IA que cita sua marca em contexto inadequado. A solução não está em escolher entre proteção e visibilidade, mas em criar uma estratégia híbrida que aborde ambos os desafios. Isso passa por uma curadoria inteligente de fontes, em que se abandonam listas de palavras-chave cegas e se investe em análise semântica capaz de identificar conteúdo de qualidade mesmo em tópicos sensíveis. Agentes de IA precisam de fontes autoritárias, portanto, seja uma delas.
Outro ponto essencial é o monitoramento de citações em IA. Assim como você monitora menções tradicionais, agora precisa rastrear como agentes de IA citam sua marca. Ferramentas emergentes já permitem acompanhar a visibilidade em plataformas como ChatGPT, Google AI e Perplexity. Além disso, a otimização de contexto para agentes se torna indispensável. É preciso estruturar o conteúdo para que compreendam exatamente como sua marca deve ser posicionada, utilizando dados estruturados, FAQs claros e declarações de posicionamento explícitas.
Também é necessária uma abordagem de Brand Safety proativa para IA, com diretrizes específicas sobre como sua marca deve ser mencionada em respostas, incluindo contextos apropriados, associações desejadas e limites claros. Algumas empresas que já monitoram sua visibilidade em LLMs, registrando o crescimento significativo mês a mês no tráfego de agentes de IA, com taxas de conversão superiores às da busca orgânica tradicional. Enquanto isso, marcas focadas apenas em SEO assistem sua participação de mercado evaporar à medida que concorrentes conquistam visibilidade em IA.
A pergunta, portanto, não é mais “onde meus anúncios não devem aparecer?”, mas “como garantir que agentes de IA me mencionem no contexto certo?”. Essa mudança de mindset define quem dominará a próxima década. Brand Safety e AEO não são estratégias concorrentes, mas faces da mesma moeda. Marcas que dominarem essa integração não apenas protegerão sua reputação, como também se tornarão a fonte confiável que agentes de IA citam quando bilhões de usuários fizerem perguntas sobre seu setor. A revolução já começou. A questão é: sua marca está preparada para ser a resposta?
*Rodrigo Cerveira é CMO da Vórtx e co-fundador do Strategy Studio. Com 30 anos de experiência em estratégia, liderança e desenvolvimento de negócios globais e locais, é especializado em construção de marca e estratégia criativa. É formado em Publicidade e Marketing pela Faculdade Cásper Líbero, com Extensão em Gestão pelo INSEAD (Instituto Europeu de Administração de Negócios)
