ARTIGO | De vilões a guardiões do digital: a evolução da percepção do hacker no Brasil

*Caio Telles, CEO da BugHunt

Durante muito tempo, o termo “hacker” foi tratado como sinônimo de criminoso digital. Sua menção evocava medo, desconfiança e a imagem de alguém por trás de golpes, invasões e prejuízos. Esse estigma atravessou décadas e moldou uma visão simplista sobre um grupo que, na essência, sempre foi movido por curiosidade, criatividade e pela vontade de entender como a tecnologia funciona — para aprimorá-la, e não destruí-la.

Hoje, esse cenário começa a mudar. A sociedade passa por um processo de amadurecimento na compreensão do papel dos hackers, impulsionada por uma transformação cultural que vem, em grande parte, pela atuação dos “hackers éticos”. Esses profissionais dominam as mesmas técnicas de ataque, mas as utilizam para fortalecer a segurança das empresas, proteger dados e prevenir incidentes antes que eles aconteçam.

De vilões a guardiões do digital, essa mudança de percepção é um dos sinais mais claros de que o Brasil está evoluindo na forma como enxerga, entende e valoriza a cibersegurança.

Da sombra à colaboração

Até pouco tempo, as empresas viam o hacker como um inimigo a ser combatido. Hoje, começam a enxergá-lo como um aliado estratégico. Esse movimento é resultado do amadurecimento da cultura digital e da disseminação de modelos colaborativos, como o Bug Bounty,  programas de recompensa por vulnerabilidades, que permitem que pesquisadores independentes testem, de forma ética e controlada, as defesas de uma organização.

O que antes era uma relação baseada em medo e sigilo, hoje dá lugar à transparência e à cooperação. Essa mudança de mentalidade é essencial para a construção de uma verdadeira cultura de segurança, em que identificar falhas deixa de ser motivo de punição e passa a ser oportunidade de aprendizado e evolução.

O novo significado do hacker

O hacker ético é, acima de tudo, um solucionador de problemas. Ele busca entender sistemas complexos, antecipar riscos e propor melhorias estratégicas. É um profissional que combina técnica, criatividade e senso crítico para proteger o ativo mais valioso no ambiente digital: a informação.

Essa nova geração de especialistas vem transformando a maneira como o mercado e a sociedade encaram a segurança digital. O foco deixou de ser apenas evitar ataques e passou a ser construir um ecossistema mais resiliente, onde falhas são tratadas como oportunidades de aprimoramento, e não como fracassos.

Um movimento crescente

O reconhecimento da importância dos hackers éticos é um fenômeno global. Em diversos países, esses profissionais são altamente valorizados e ocupam posições estratégicas em empresas, governos e startups. No Brasil, segundo estudo da Brasscom, os investimentos em cibersegurança devem chegar a R$ 104,6 bilhões até 2028, um crescimento de 43,8%, refletindo a crescente prioridade do tema no país.

Essa valorização se intensifica à medida que os incidentes cibernéticos se tornam um dos principais riscos corporativos. Confiar em especialistas independentes e adotar modelos colaborativos representam passos decisivos para um futuro digital mais seguro e resiliente.

Quebrar o preconceito é proteger o futuro

A mudança na percepção do hacker é, acima de tudo, uma transformação de mentalidade. Segurança digital não se constrói apenas com tecnologia, mas com cultura, visão estratégica e colaboração. Enquanto continuarmos a associar o hacker exclusivamente à criminalidade, estaremos desperdiçando o potencial de uma comunidade capaz de fortalecer a proteção das empresas e da própria sociedade.

Há quem use a tecnologia com fins maliciosos. No entanto, a maioria dos profissionais que atuam nessa área é movida por curiosidade, ética e pelo desejo de tornar o ambiente digital mais seguro.

É hora de passar a enxergar o hacker como um agente de confiança, alguém que identifica vulnerabilidades para prevenir danos significativos. Essa nova perspectiva permitirá às empresas avançarem na construção de um ecossistema digital mais seguro, inovador e preparado para os desafios do futuro. 

Caio Telles, CEO da BugHunt

Ao lado do irmão, Bruno Telles, Caio Telles é cofundador da BugHunt, empresa de cibersegurança referência em Bug Bounty, programa de recompensa por identificação de falhas. É formado em Engenharia  de Computação e atua na área de segurança há mais de 15 anos, com foco em segmentos como segurança ofensiva, defensiva, conscientização, GRC, entre outros.

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