*Carlos Wayand, CEO da Mob2Con
Diante de um contexto em que os dados se tornaram o epicentro das tomadas de decisões estratégicas de basicamente todos os setores da economia mundial, a digitalização no varejo se apresenta como um segmento repleto de possibilidades ainda inexploradas. Segundo estudo recente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, 74% dos varejistas que investiram em tecnologia apresentaram um crescimento em suas receitas. Embora a estatística revele um cenário promissor, muitas vezes ela acaba por esconder um desafio colossal na real adequação do setor rumo à digitalização.
Isso porque o estudo mostra ainda que, apesar de 64% dos varejistas declararem a intenção de expandir o investimento em ferramentas digitais, 88% devem destinar os recursos exclusivamente ao e-commerce. Ou seja, o dado deixa claro que muitos gestores do varejo possuem uma visão bastante restrita sobre o contexto atual. Por mais que o investimento no comércio digital seja importante, o segmento parece negligenciar outros benefícios substanciais da tecnologia na loja física, principalmente no que diz respeito à análise de informações.
O cenário fica mais evidente ao compararmos as diferenças nos processos de tomada de decisão entre a indústria e o varejo. Enquanto a primeira predomina suas estratégias a partir de dados e pesquisas proporcionadas pela tecnologia, a outra ainda persiste em um caminho tradicional, muito baseado no tino comercial ou na experiência de seus proprietários e gestores.
Apesar dos pesares, creio categoricamente que tal comportamento está longe de significar uma falta de interesse por parte do varejo. A justificativa para o panorama atual é muito mais complexa, passando por diversos fatores que dificultam a implementação dessa cultura. Podemos destacar, por exemplo, o fato do varejo, com sua imensidão e variedade, enfrentar adversidades para estabelecer bases de dados sólidas e eficazes. Um problema que a indústria não sofre tanto porque, em muitos casos, atua de forma segmentada e direcionada para determinada área ou produtos específicos.
Impacto positivo
Se por um lado o exemplo justifica a dificuldade do processo, por outro é importante avaliar o tamanho do ganho caso o problema seja superado. Imagine o impacto que poderia ser adicionado ao setor varejista caso a compilação e análise dos dados já tivesse sido implementada em sua cultura.
Para mudar essa realidade, o varejo precisa adotar de vez uma mentalidade mais analítica e proativa. Não se trata apenas de adotar ferramentas digitais, mas de integrar completamente a tecnologia na essência do varejo, alinhando o conhecimento interno e já consolidado de vendas com a aplicação inovadora das tecnologias disponíveis.
Vale dizer ainda que essa não é uma mudança que possa ser adquirida em uma prateleira; requer uma verdadeira transformação cultural interna. Sem dúvida, o processo será desafiador e exigirá muito mais do que investimentos substanciais. Treinamentos, revisões de processos e uma constante troca de informações também se farão necessários.
Acredito que o potencial de recompensa justifica o esforço. Hoje no varejo, a adoção efetiva de análises de dados poderia trazer desde a otimização de inventários, a personalização da experiência de compra, passando até por uma melhor compreensão das necessidades e comportamentos dos fornecedores e consumidores.
O fato é que a jornada para a digitalização no varejo físico não é apenas uma necessidade imposta pelo mercado. Na verdade, trata-se de uma oportunidade de reinvenção e crescimento para o setor. Embora os desafios sejam consideráveis, os benefícios de uma transição bem-sucedida podem transformar completamente a forma com que o varejo atende às demandas da indústria e, principalmente, do seu cliente. Chegou a hora de darmos os primeiros passos rumo a essa nova era digital.
*Carlos Wayand é CEO da Mob2Con, principal plataforma de inteligência de dados para a eficiência operacional do varejo.