* Eduardo Garay, CEO da TechFX
Nos últimos anos, uma tradicional dinâmica do mercado de trabalho se inverteu. Se antes o sonho era encontrar uma maneira de fazer carreira lá fora, hoje são as empresas internacionais que estão de olho e vindo buscar o talento brasileiro. Com a alta do dólar, a popularização do trabalho remoto e a valorização da diversidade cultural, o Brasil virou vitrine de profissionais, e não apenas para o setor tecnológico.
Muito embora os desenvolvedores ainda liderem com certa folga a lista de contratações internacionais, representando 42% das vagas avaliadas em uma análise recente publicada pela Deel, empresas estrangeiras estão cada vez mais buscando brasileiros para diferentes áreas, como marketing, design, atendimento ao cliente, vendas, finanças e recursos humanos. Hoje, funções como a de analista de performance, customer success, SDR/BDR e recrutador internacional já são parte da rotina de muitos brasileiros contratados por fora.
O motivo para essa nova onda é uma combinação de fatores bastante favoráveis ao Brasil. Para as organizações de fora, o país oferece profissionais altamente qualificados, com esforço crescente no inglês, experiência em home office e ainda por cima num fuso horário que facilita a comunicação com os Estados Unidos e países europeus. Pelo lado dos trabalhadores, o salário em dólar é um atrativo de encher os olhos. Com uma valorização de mais de 27% da moeda americana frente ao real, o vencimento internacionalizado pode significar remunerações até 180% superiores às médias brasileiras em cargos semelhantes.
E vale dizer que não são só as gigantes estrangeiras que estão contratando. Segundo a Deel, 65% das empresas que recrutam brasileiros são de pequeno porte. Isso mostra que a internacionalização do trabalho está mais acessível do que nunca, não dependendo necessariamente de morar fora ou ter um diploma de instituições internacionalizadas para embarcar nessa.
Outro ponto forte nesse mercado globalizado é o perfil comportamental dos nossos profissionais. O brasileiro em geral é versátil, criativo e resiliente, características essas que chamam a atenção das empresas que precisam de profissionais que entreguem resultados e saibam se adaptar rapidamente a diferentes contextos e culturas.
Porém, por mais valorizadas que sejam, apenas essas qualidades não são suficientes para a conquista da oportunidade. Hoje, o mercado valoriza quem tem domínio de ferramentas digitais, pensa de forma analítica e autônoma, e, fundamentalmente, sabe se comunicar e portar bem em ambientes multiculturais. Por isso, investir em fluência no inglês, autoconhecimento e presença ativa no LinkedIn e comunidades globais faz toda a diferença.
Para quem deseja surfar essa tendência, vale a pena começar a explorar plataformas de trabalho internacional, caprichar no portfólio, se conectar com profissionais de fora e se manter atualizado com as tendências da sua área. Com o mundo cada vez mais digital e globalizado, praticamente toda profissão que pode ser feita online tem potencial de exportação.
No fim das contas, estamos vivendo uma virada no mercado de trabalho. O talento brasileiro nunca esteve tão valorizado lá fora, em um movimento que deve ser crescente e duradouro. Graças ao avanço das tecnologias, estamos diante de um momento em que o mundo virou nosso home office. Com um bom Wi-Fi, inglês afiado e vontade de aprender, o brasileiro tem tudo para se destacar nessa nova fronteira do trabalho. Afinal, se o mundo está aberto para o Brasil, por que não abrir a porta e entrar?
*Eduardo Garay é CEO e fundador da TechFX, principal plataforma de câmbio para brasileiros que trabalham para empresas do exterior. Com mais de 10 anos de experiência, o executivo acumula passagens por grandes companhias financeiras, como a XP Investimentos, sendo responsável por desburocratizar serviços com a aplicação da tecnologia e inovação.