Por Regina Silva, diretora pedagógica do Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação, área da Positivo Tecnologia para negócios de educação
Ao analisar os números divulgados pela Unicef, percebe-se que o percentual de crianças e jovens em idade escolar fora da escola aumenta ano a ano. Em 2019, eram pouco mais de 1 milhão e, em 2021, o índice saltou para 1,4 milhão. Alguns dados da FGV reforçam esse cenário e apontam que a pandemia fez a taxa de evasão voltar aos índices de 14 anos antes.
Podem ser diversas as situações que levam essas crianças e adolescentes a estarem fora das instituições de ensino, porém, 37% dos jovens entre 11 e 14 anos, afirmam que isso ocorre porque não há interesse nos estudos.
Despertar essa vontade, talvez seja uma das necessidades das instituições e governos.
Vejo que além de todas as dificuldades que a educação brasileira já enfrentava, a pandemia trouxe novos desafios. Professores e alunos precisaram ficar em casa, assim como toda a população, e o processo de ensino-aprendizagem foi prejudicado, em especial quando pensamos em educação pública.
Rapidamente, alunos e professores foram inseridos no ensino à distância, o que trouxe um panorama complicado. Em novembro de 2021, 3,7 milhões de crianças e jovens, entre 6 e 17 anos, estavam com matrículas ativas na rede de ensino, mas não recebiam atividades para estudar em casa.
O Censo Escolar 2021 mostra que 97,5% das escolas públicas municipais não retornaram às atividades presenciais no ano de 2020. E, durante o ano letivo, 19,7% dos municípios disponibilizaram equipamentos para os docentes, como computadores, notebook, tablets e/ou smartphone, e essa oferta aconteceu em apenas 4,3% das cidades para os estudantes.
As principais estratégias usadas pelas redes municipais para levar o conteúdo até os alunos, durante o período de isolamento, foram materiais impressos e orientações via WhatsApp.
Dados apresentados pela PwC consultoria mostram que 59% das escolas públicas realizaram aulas remotas, sendo que, praticamente 90% dos docentes afirmaram não ter experiência e não ter recebido formação devida para utilizar a tecnologia digital.
Com a pandemia, as diferenças foram mais acentuadas e foi possível notar a necessidade que as instituições têm em levar a tecnologia para dentro da sala de aula. Dados da Unicef vão ao encontro dessa realidade, sendo que, das cidades analisadas, 48,7% das redes municipais registraram muita dificuldade para o acesso dos estudantes à internet e 24,7% para o acesso dos docentes.
Além disso, informações do estudo realizado pela PwC Consultoria reforçam a dificuldade que o Brasil ainda enfrenta quando o assunto é tecnologia. A pesquisa realizada aponta que 80% das crianças com 10 anos acessam a internet, porém apenas 20% têm conexão de qualidade.
Dos estudantes de escola pública, 78% afirmam ter acesso à internet, porém, mais de 8 milhões de estudantes brasileiros frequentam instituições de ensino que não tem conectividade, número que representa 21% dos alunos matriculados.
Os desafios se estenderam para o ano de 2022, com a retomada do ensino presencial. Acredito que para recuperar a defasagem escolar, que aumentou com o isolamento, é necessário que os alunos estejam muito engajados em aprender Língua Portuguesa e Matemática, pois, essa é a grande dificuldade.
As informações do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2018, já mostravam a dificuldade dos estudantes e das instituições brasileiras no quesito educação. Entre 79 países avaliados, o Brasil aparece na 57ª posição, tendo um dos piores desempenhos em Matemática e em leitura, já que os alunos demonstraram grande dificuldade em interpretação de texto, não conseguindo diferenciar o que é fato do que é opinião.
A pesquisa do Alicerce Educação realizada em 2021, mostra que a defasagem em Matemática é de 2,2 anos para crianças e 4,5 anos para jovens, o que apenas reforça a necessidade dos estudantes em recuperar os conteúdos que foram deixados de lado, em especial nos últimos dois anos.
Uma das maneiras de recuperar a defasagem escolar é com o uso da tecnologia na educação. Mas, para que isso aconteça, é necessário que as instituições brasileiras estejam devidamente equipadas, com hardwares compatíveis com a realidade dos professores e dos alunos, assim como forneçam o acesso às soluções e plataformas que auxiliem e revolucionem o ensino e a aprendizagem.
Para recompor a aprendizagem e para que os alunos tenham proficiência, em especial em Língua Portuguesa e Matemática, é preciso mapear e compreender as dificuldades de cada um deles para, assim, oferecer um conteúdo significativo e que os auxilie na compreensão e resoluções dos problemas.
As crianças e jovens que hoje estão nas escolas, e muitas vezes fora dela, estarão no mercado de trabalho em um futuro próximo e que exige a cada dia, mais conhecimento e proximidade com a tecnologia e a inovação.
O Brasil pode ficar para trás caso a realidade do acesso à tecnologia não mude, o que pode e deve começar nas escolas.
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