Por Rodrigo Duprat
O porquê de as pessoas gostarem tanto do poder está relacionado ao fato de essa ser uma essência primitiva do ser humano, algo intrínseco na sobrevivência, no relacionamento com outros, na busca pela elevação de degraus em uma sociedade e na sensação de uma sobreposição sobre outros – tanto é que alguns dizem que o poder sobe à cabeça quando o indivíduo passa a se considerar melhor do que outro.
Em certo momento da história, durante as monarquias, a figura do rei, enquanto chefe de estado, exercia a maior forma de poder na sociedade, liderando os súditos e comandando tropas. Em outros tempos, os nobres assumiram esse papel nas aristocracias. Contudo, essas formas de governo se provaram obsoletas com o tempo, indo abaixo e dando espaço a uma forma de poder mais democrático, que colocava o povo no centro das decisões.
Ainda hoje, porém, mesmo se levarmos em conta apenas a relação entre poder e política, existem locais que pregam mais a igualdade do que outros. Por exemplo, em países nórdicos, as figuras políticas costumam ir trabalhar de transporte público e têm contato direto com a população, sem um distanciamento que acaba gerando uma visão de mundo imaginária.
Os suecos veem isso como a vida política precedendo os luxos e privilégios, em algo que chamam de Jantelagen, ou “lei de Jante”. O nome é uma referência à cidade fictícia de Jante, retratada em um romance de 1933 do escritor escandinavo Aksel Sandemose. O livro descreve uma tradição centenária que desencoraja a ostentação da riqueza ou do sucesso, subvertendo as hierarquias. Em outras palavras, a mensagem é: ninguém deve se considerar melhor do que outro.
Se pensarmos bem, perceberemos que todas as esferas sociais, muito além da política, envolvem um senso de poder, seja no local de trabalho, no ambiente familiar ou em outros tantos tipos de relação humana. E agora você pergunta: o que todos esses ambientes têm em comum? Um conjunto de pessoas tentando conviver em harmonia nesse espaço criado.
De alguns anos para cá, a informação se tornou um dos capitais mais valiosos no mundo, onde tudo passou a estar na palma da mão com a criação dos smartphones, dispositivos inteligentes que nos bombardeiam com conteúdo. Não à toa, aqueles que reúnem uma maior quantidade de pessoas sob um mesmo “guarda-chuva” podem ser considerados os mais poderosos do mundo – entre eles, estão os detentores das maiores empresas de tecnologia e de redes sociais, que contam com bilhões de usuários, como Elon Musk (Twitter), Mark Zuckerberg (Facebook) e Tim Cook (Apple).
Ícones como esses citados estão imersos na disputa pelo poder, não sossegam até conseguir aquilo que almejam – comportamento esse que foi transportado para as redes sociais, fazendo com que as pessoas passem horas e horas consumindo o que desejam até serem saciadas. A relação com as redes sociais não deveria ser assim. Em um mundo ideal, existiria um equilíbrio entre essas forças, uma forma mais saudável de uso de aplicativos e novas tecnologias. É por isso que atualmente na sociedade estão em pauta questões relacionadas à regulamentação das redes, para assim pensar na desaceleração do consumo de informação e conteúdo, que acaba sendo prejudicial para a nossa saúde mental.
A partir do momento que existir um equilíbrio dos poderes na sociedade, com boas práticas e um convívio próspero entre as pessoas, tanto nos ambientes públicos quantos nos artificiais criados na modernidade, atingiremos o próximo nível do desenvolvimento humano. E é nesse próximo nível que haverá competições saudáveis, que nos farão valorizar aquilo que conquistamos como seres humanos, com possibilidade de existir em conjunto e cooperar livremente.
Rodrigo Duprat é cirurgião plástico formado no Instituto Ivo Pitanguy. Realizou sua Residência de Cirurgia Geral pela Santa Casa de São Paulo. É Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e formado em medicina integrativa pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
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