Por Daniel Mendez, fundador e presidente da Sapore
Ninguém deseja uma crise. Porém, algumas delas, como é o caso da pandemia de Covid-19, são completamente imprevisíveis. O novo coronavírus mostrou ao mundo que até as mais sólidas instituições podem estar sujeitas a turbulências, capazes de abalar nações não apenas no aspecto de saúde, mas também no aspecto socioeconômico. Se não podemos escolher deixar de passar por uma adversidade, podemos – e devemos – saber como vamos encará-la. Mesmo com a retomada gradativa da atividade econômica, a situação que estamos vivendo exige protagonismo das empresas. É hora de jogar o jogo e não de assistir.
De acordo com a consultoria de lideranças Russell Reynolds Associates, as maiores mudanças ocorrem em momentos de incerteza, e os melhores líderes são aqueles que enxergam como melhor se adaptar a esse cenário. A experiência vivida em outras crises me fez crer na cultura da ação, de executar em vez de perder tempo elaborando planos inviáveis para o momento. E se der errado? Errar faz parte do aprendizado e sem arriscar não há como inovar. Isso não significa abrir mão de planejamentos, muito pelo contrário: é o estabelecimento de processos preventivos que darão suporte às tomadas de decisão.
A flexibilização da quarentena em boa parte do país não dispensa a manutenção de um comitê de crise multidisciplinar. É ele que será responsável por conectar a organização com as informações externas. No caso da pandemia, manter-se atento às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) permitiu às organizações instituir protocolos de segurança alinhados às necessidades de cada cliente. Tais dispositivos nortearam a criação de procedimentos operacionais padronizados como, por exemplo, manuais de boas práticas já considerando a situação pandêmica.
Mais ainda, vivenciar um momento tão crítico para toda a humanidade fez emergir a necessidade de observar o outro, aprender com o outro e zelar pelo outro. Agir para cuidar das pessoas tornou-se a prioridade. Nunca havíamos antes presenciado o engajamento de tantas empresas em prol da solidariedade. Para isso, não foi necessário abandonar os próprios negócios. Mesmo assoberbados de trabalho, foi possível usar a criatividade e abrir espaço nas agendas para atender, doar, conversar, enfim, dar assistência aos que precisavam. Foi o momento de as empresas provarem se sua missão, sua visão e seus valores condiziam com a realidade.
Essa necessidade de ação imediata comprovou que não temos tempo a perder, direcionando esforços para desenvolver um plano em PowerPoint a ser executado a logo prazo. Crises são dinâmicas, e a velocidade na tomada de decisões é crucial para a sobrevivência de uma corporação.
Muitas vezes, são necessárias adaptações radicais, como descontinuar serviços ou deixar de oferecer produtos que não fazem mais sentido para o consumidor. Ao mesmo tempo, pode ser a hora de desenvolver outras áreas, buscar diferentes habilidades, criar nichos de mercado, se diferenciar por meio da inovação.
É muito importante também que todo esse movimento seja norteado pela empatia. Em uma recente publicação, a revista americana Fast Company pontuou características que fazem um líder ser melhor diante da pandemia, entre elas a valorização de toda a equipe, desde a base até a direção. Valorizar nada mais é do que acreditar no potencial de cada um e dar suporte necessário para o colaborador. É fundamental ser empático, proativo e flexível para lidar com as diferentes emoções e reações provocadas por uma crise de alcance mundial.
Apesar do peso do desafio que estamos vivendo, um fato é certo: um dia tudo isso vai passar. O que nos tornaremos dependerá da postura que escolhemos adotar agora. Eu acredito que estamos vivendo um grande aprendizado. Basta saber o que faremos com ele, e isso sem tirar os olhos do futuro.
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