VP, Digital Services Enablement & Strategy, Foundever – Mariana Diniz Lauar
Em alguns países, encontramos ainda barreiras culturais, econômicas e estruturais que as mulheres enfrentam para ingressar no mercado profissional de modo geral. Especialmente quando consideramos localidades da África, Oriente Médio e Ásia, onde as particularidades históricas continuam a impactar o presente e o futuro.
Pensando nisso, e com o objetivo de amenizar o desafio enfrentado em regiões como estas, vivenciei de perto a realidade de diversas mulheres no mercado de trabalho. O Egito foi o nosso espaço anfitrião, um país com muita história, que molda o passado e o presente de muitas gerações ao redor do mundo.
Desde o início, realizei um estudo prévio para compreender melhor as necessidades e dificuldades que muitas mulheres vivenciam e, consequentemente, como as ferramentas tecnológicas poderiam melhor assessorá-las. No Cairo, por exemplo, as crianças costumam sair da escola por volta das duas horas da tarde. Nesse cenário, muitas mulheres precisam se organizar para serem produtivas no período entre o término das aulas e o momento de buscar os filhos.
No workshop que conduzi, por meio do Freelance Mama, um projeto promovido pela Fundação Foundever.org em parceria com a Carerha, apresentei caminhos práticos para que elas utilizem a inteligência artificial como aliada, especialmente para aumentar a produtividade no tempo disponível. Assim, podem realizar suas atividades profissionais de forma efetiva no tempo que possuem e, ainda, preservar o restante do dia para suas responsabilidades no lar.
O programa capacita mulheres para o mercado freelancer por meio de formações práticas em áreas como design gráfico, criação de conteúdo e assistência virtual/moderação de conteúdo em redes sociais. Minha contribuição para essa iniciativa foi liderar um workshop de três horas sobre inteligência artificial, em que desmistifiquei conceitos essenciais da área, como Machine Learning, Deep Learning, Generative AI e Agentic AI, tornando-os acessíveis. Demonstrei, com exemplos práticos, o potencial da IA como ferramenta para reinvenção profissional e como pode ser aplicada nas rotinas pessoais e profissionais, preparando-as para os novos papéis que estão emergindo no mercado.
Elas perguntavam…
Fiquei impactada com o interesse, a participação ativa e, principalmente, com o perfil empreendedor das mulheres nas turmas. A maioria já utilizava a inteligência artificial no dia a dia, muitas vezes por conta própria, aprendendo de forma autodidata. Foi nítido perceber o fascínio crescente pelo uso, mas também um certo receio, totalmente compreensível. Uma das perguntas que mais recebi foi: “Ela vai substituir completamente os humanos?”
Minha resposta era que, se olharmos para a história da humanidade, veremos que todas as grandes inovações tecnológicas trouxeram também novas oportunidades de trabalho. Para se ter uma ideia, estima-se que 60% das profissões atuais não existiam em 1940. Eu reforçava dizendo que, sim, haverá impacto em algumas funções, da mesma forma que surgirão muitas novas. Quando bem utilizada, a ferramenta pode ser poderosa para aumentar a produtividade, o desempenho profissional e a autonomia das pessoas.
Fiz questão de me preparar a fundo para essa missão. Estudei o mercado de trabalho local e dados específicos sobre a participação das mulheres nesse cenário, além de aspectos do cotidiano que impactam suas vidas — como os horários escolares, entre outros pontos. Dediquei-me a aulas de árabe, pois acredito que conseguir se comunicar, ainda que em poucas palavras no idioma local, é um sinal de respeito e conexão. Refleti bastante sobre o conteúdo, o formato e os exercícios práticos que iria oferecer, sempre com o objetivo de construir algo que realmente fizesse sentido para elas.
Os frutos
Essas iniciativas conectam, reconhecem e incentivam mulheres no setor por meio de visibilidade, networking e reconhecimento de liderança. Existem talentos femininos de destaque na área, mas ainda precisamos de mais iniciativas que ampliem o acesso, a visibilidade e as oportunidades reais de crescimento profissional para outras mulheres, especialmente em tecnologia. Afinal, como em qualquer outro setor, o que realmente importa não é o gênero, mas a experiência, o talento e a competência que cada pessoa traz consigo.
O principal fruto que espero colher, tanto no curto quanto no longo prazo, é saber que consegui contribuir, de alguma forma, para a trajetória dessas mulheres. Quero ajudá-las a se conectarem com seus sonhos, a se sentirem mais confiantes para retornar ao mercado de trabalho, se aventurarem em novos caminhos ou se fortalecerem no emprego atual. E que possam utilizar a inteligência artificial como ferramenta para viabilizar e facilitar esse caminho.
