O Brasil acaba de atingir seu maior índice de usuários de internet na história: 89,1% da população com 10 anos ou mais declarou ter acessado a internet nos últimos três meses. O número equivale a 168 milhões de pessoas conectadas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – TIC, divulgada na última semana pelo IBGE.
Outro recorde é o de posse de dispositivos pessoais: 88,9% da população já possui um aparelho próprio para se conectar, o que inclui principalmente smartphones. A pesquisa traz avanços expressivos em grupos que historicamente enfrentam barreiras de acesso, como idosos, crianças e moradores da zona rural. No entanto, os dados também revelam desigualdades e limitações que vão além da simples presença de conexão.
“Mais do que estar conectado, é preciso garantir que a internet seja útil para a vida, para os estudos, para o trabalho, para o acesso a direitos. Isso é o que chamamos de conectividade significativa”, afirma Laerte Magalhães, CEO da Nuhdigital, empresa especializada em soluções de conectividade voltadas à educação e políticas públicas.
Conexão, sim, mas e a qualidade?
Laerte faz um alerta sobre como os dados são interpretados. Segundo ele, usar a internet uma única vez a cada três meses não garante inclusão digital real. Ele compara o cenário ao acesso à água:
“Dizer que alguém tem acesso à internet só porque se conectou uma vez a cada três meses é como dizer que alguém tem acesso à água porque toma um copo por dia. Precisamos de água para lavar roupa, tomar banho, cozinhar — assim como necessitamos de internet de qualidade todos os dias para trabalhar, estudar e empreender.”
O conceito de conectividade significativa, já adotado como referência pela ONU, considera não apenas a existência de uma conexão, mas também sua qualidade, regularidade, velocidade, estabilidade e a capacidade do usuário de navegar com autonomia.
Avanços e contradições
Entre os destaques da pesquisa:
- 98,8% dos usuários brasileiros se conectam pelo celular, mas apenas 33,4% ainda usam computadores — o que pode limitar a realização de tarefas mais complexas.
- Pela primeira vez, mais de 50% das pessoas acessaram a internet pela TV, revelando novas formas de consumo digital dentro de casa.
- O uso diário da internet chegou a 95,2% dos usuários.
- Na zona rural, o acesso saltou de 33,9% em 2016 para 81% em 2024, mas continua abaixo da média urbana (90,2%).
- Entre os idosos, o percentual de conectados subiu de 24,7% em 2016 para 69,8% em 2024 — um avanço expressivo, mas ainda limitado pelo letramento digital e barreiras de usabilidade.
- Na educação, a desigualdade é evidente: 90% dos alunos da rede pública têm acesso à internet, contra 97% na rede privada.
Inclusão digital precisa ir além da cobertura
A Nuhdigital defende que o Brasil incorpore a conectividade significativa como meta nas políticas públicas, com investimentos não apenas em infraestrutura, mas também em formação digital e inclusão social. Sem isso, o aumento no percentual de usuários pode mascarar a precariedade de muitos acessos — lentos, intermitentes ou restritos ao uso passivo.
“Ter um celular com plano limitado não garante acesso à educação de qualidade, oportunidades de trabalho remoto ou participação ativa na sociedade digital. A inclusão só será plena quando todos puderem usar a internet de forma plena e produtiva”, conclui Laerte Magalhães.
