A inteligência artificial (IA) e o Big Data estão transformando o mercado de trabalho em ritmo acelerado. Cada vez mais empresas buscam profissionais qualificados para lidar com essas tecnologias e as oportunidades para quem se capacita nessa área são promissoras.
Para entender melhor a importância da capacitação em IA e Big Data, o I Workshop de Inteligência Artificial e Big Data será realizado no dia 5 de abril, no Center For Artificial Intelligence (C4AI) da USP. O evento gratuito é aberto ao público e reunirá especialistas para discutir as oportunidades e desafios das áreas em crescimento.
Em entrevista ao Além do Click Tech, a coordenadora do MBA em IA e BigData do ICMC USP, Solange Rezende, destaca a importância da capacitação para o futuro profissional e as principais habilidades que os profissionais de IA e Big Data precisam ter.
De acordo com Solange Rezende, embora grandes empresas já venham adotando IA e Big Data há algum tempo no exterior, somente agora estes temas têm ganhado destaque no Brasil. “Eu acredito que é o momento crucial para entrada de técnicas de inteligência artificial, de técnicas de manipulação de grandes volumes de dados. O processo de transformação digital já trouxe para o mundo digital, já trouxe as informações, já aumentou e incentivou a coleta de dados em todo esse processo, mas agora chegou o momento em que não dá mais para a gente olhar para esses dados, analisar esses dados, manipular isso, descobrir conhecimento embutido nesses dados, informações e conhecimento que esses dados carregam de forma manual, como era feito até então”.
Solange continua dizendo que é neste momento que entra a grande potência da inteligência artificial, a capacidade de fazer a análises de forma automática, usando aí técnicas desenvolvidas na área de aprendizado de máquina para construir modelos que sejam capazes de descobrir conhecimento que vem sendo armazenado nesses dados e, a partir daí, usar esse conhecimento em processos de tomada de decisão. “Hoje temos muitos processos onde a gente sabe que uma IA está por trás, o que a gente chama de desenvolvimento da IA, que é visível, que você acessa, chama, verifica, faz alguma coisa, como o próprio chatGPT, aonde você vai lá e pede algo para ele, mas a gente tem muitas técnicas também que estão dentro da linha da inteligência artificial invisível. São modelos que estão trabalhando por trás, sem que o usuário tenha acionado, não que seja perceptível. Você só recebe o resultado e muitas vezes você nem percebe que usa, como, por exemplo, nas interações em redes e redes sociais e mesmo nos nossos celulares”.
Principais Desafios
Temos hoje em dia muitos desafios em termos de desenvolvimento de novas técnicas, já que o volume de dados tem sido cada vez maior e a gente precisa de mais potência, ou melhor utilização dos recursos. Assim, temos desafios no desenvolvimento de algoritmos, de aprendizado, no desenvolvimento de manipulação desses grandes volumes de dados, de armazenamento desses grandes volumes de dados. “Enfrentamos desafios, inclusive de processamento, coisas que as grandes empresas já não enfrentam mais em função da quantidade de recursos financeiros que elas têm disponível, que permite a criação de ambientes muito mais adequados aos aprendizados”.
Outro grande desafio é o tratamento, a manipulação dos dados, já que, de acordo com a especialista, a gente coleta os dados, mas nem sempre seguindo boas políticas na coleta desses dados. Assim, esses dados, que vêm sendo coletados há anos e armazenados, carregam todos os vieses existentes no nosso dia a dia. Quando a gente aprende, então, a partir desses dados, existe uma tendência de que esses modelos, aprendidos a partir desses dados, carreguem também os vieses embutidos nesses dados. “É aí que temos muitas falas sobre a questão do viés, quando dizem que o algoritmo aprendeu alguma coisa que é preconceituosa ou racista, ou algo do tipo, por quê? Porque a fonte para o aprendizado é uma fonte de dados que vem reconstruída a partir de dados gerados no nosso dia a dia, trazendo todas as diferenças, as injustiças e todos esses processos que a gente sabe que tem. Assim, eu vejo que um dos grandes desafios que temos hoje é ter dados de qualidade para que seja possível aprender modelos mais precisos”.
Reação do mercado de trabalho e a demanda por profissionais qualificados
Outro grande desafio é a aproximação do que existe de inovação sendo desenvolvida com a solução de problemas reais, de problemas que as empresas têm e que querem solucionar. Ainda há uma grande distância, em especial, de profissionais que de fato conhecem a inteligência artificial e o Big Data e que também conhece o mundo dos negócios, que sabe fazer uma boa análise do negócio, identificar uma necessidade em que ele possa usar a técnica.
Mas, de acordo com Solange Rezende, existe uma falta muito grande de profissionais, inclusive profissionais com experiência, que consegue olhar para o problema, analisar e aplicar o que de fato é necessário para construir uma boa solução para esse problema. “Outro problema é que o mercado está exigindo que você faça, que você utilize IA e resolva o problema deles. Mas o profissional ainda não está apto para fazer isso, então ele pode construir uma solução que ainda não é uma boa solução ou não é a melhor solução para aquele caso, embora já seja interessante, pois já é melhor do que o que ele tinha até então, mas ainda está aquém do que poderia ser, porque esse profissional aprendeu de forma autodidata ou em função da necessidade dele, não em função do que existe de mais novo. Então o profissional resolve, mas não promovendo uma solução que realmente seja boa para aquela situação, para aquele problema”.
Assim, hoje a quantidade de profissionais formados é um grande desafio, pois todas as áreas relacionadas, em especial, à computação e a esse cenário digital, são áreas que precisam de inteligência artificial, e às vezes, conforme explica Solange Rezende, a pessoa tem a formação naquela área, mas ela não tem a formação em inteligência artificial. “Se ela faz então uma formação em inteligência artificial, ela potencializa a capacidade dela naquela outra área. Imagine, por exemplo, uma pessoa que trabalha com redes de computadores e que ele vai detectar a intrusão nos pacotes enviados pelas redes. Se este profissional sabe IA e um pouco de manipulação do grande volume de dados, vai gerar produtos muito mais eficazes, muito mais eficientes, que atendem mais a demanda na área dele. Mas a área dele é redes de computadores, então IA entraria como uma segunda área para ele potencializar seu desempenho na área dele”.
“Todos os profissionais que atuam no mercado em um cenário digital deveriam investir em aprender pelo menos um pouco de inteligência artificial, para pelo menos saber o que existe e poder falar sobre isso e buscar profissionais mais qualificados”.
I Workshop de Inteligência Artificial e Big Data
No intuito então de mostrar e promover a importância da capacitação em IA e Big Data, o Departamento de Ciências de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP está organizando o I Workshop de Inteligência Artificial e Big Data, que acontecerá no dia 5 de abril, no Center For Artificial Intelligence (C4AI) da USP. O evento, gratuito, foi pensado como uma oportunidade de reunir profissionais que são referências nessas áreas e profissionais que têm interesse em conhecer mais, que até já trabalham, que querem se aprofundar mais nesse assunto, assim como ampliar suas redes de relacionamento e entender um pouco mais sobre o quanto é necessário expandir esse conhecimento sobre inteligência artificial e Big Data.
O Workshop então será uma oportunidade de investimento na carreira, de conhecer, de tirar dúvidas com algumas pessoas que são referências, tanto em inteligência artificial quando Big Data, tanto no Brasil quanto no exterior. De acordo Solange Rezende, que é coordenadora do MBA em IA e Big Data do ICMC USP, haverá também a exposição de alguns trabalhos que foram desenvolvidos no âmbito da busca por solução para problemas reais e foram desenvolvidos no MBA em IA e Big Data.
A coordenadora explica que serão quatro momentos especiais. O primeiro será uma palestra falando que o modelo de inteligência artificial é só a ponta do iceberg, onde será falado um pouco sobre o que está nos bastidores e algumas dicas para organização de dados com sucesso. Esta palestra será realizada por Roberto Figueira, Superintendente de Engenharia da Plataforma de Dados e Ferramentas Analíticas do Itaú Unibanco, com uma formação sólida nesta área de banco de dados, de Big Data, e experiência de mais de 15 anos no mercado financeiro, passando por grandes projetos de dados de big data, de análise de risco e de data warehouse e assim por diante.
Em seguida, teremos uma fala do Fábio Cosma, professor titular da Escola Politécnica da USP e Diretor do Centro de Inteligência Artificial da USP, que é formado por docentes, em especial docentes da USP, além de outros pesquisadores de IA do Estado de São Paulo. O Centro é financiado pela IBM, é uma parceria com a IBM, onde a empresa traz problemas reais, não só a IBM Brasil, a IBM Internacional, e a FAPESP. Solange Rezende destaca que este é o primeiro centro de pesquisa em inteligência artificial criado no Brasil, na USP, onde tem se obtido resultados muito interessantes e o Fábio vai falar um pouco sobre essas pesquisas que são desenvolvidas no Centro de Inteligência Artificial da USP, que conta com mais de 60 pesquisadores.
O terceiro momento, de acordo com especialista, vai ser um café com pesquisa, um café com novidade ou um um café com exposição de trabalhos, onde será demonstrado que a realidade hoje já é inteligência artificial e Big Data. Várias pessoas terão a oportunidade de demonstrar seus trabalhos, desde classificação automática de notas fiscais eletrônicas, detecção de sentimento por imagem, exploração de inteligência artificial na gestão de estoques em armazéns, entre muitos outros.
Já o quarto momento do workshopserá uma palestra com a Tatiane Nogueira, coordenadora da Comissão Especial de Inteligência Artificial da Sociedade Brasileira de Computação, que tem como objetivo reunir pesquisadores que promovem a pesquisa de IA no Brasil. A Tatiane vai falar sobre a perspectiva de IA no mercado de trabalho. Ela é docente da Universidade Federal da Bahia com uma ampla experiência em IA, com muitas parcerias, inclusive internacionais, e ela vai falar um pouco sobre essas perspectivas de IA no mercado.
MBA em IA e BigData do ICMC USP
Solange Rezende também falou sobre o MBA em IA e Big Data do ICMC USP, criado em 2021 e que estão com inscrições abertas para a quarta turma, que iniciará em julho deste ano. De acordo com a coordenadora da especialização, o objetivo do MBA é formar profissionais para o mercado, profissionais que desejam de fato aprender sobre inteligência artificial e Big Data. O MBA atua numa formação de fundamentação nessas duas áreas, para que a pessoa saiba o que é inteligência artificial, como que ela funciona, quais são os algoritmos e consiga desenvolver esses algoritmos. “Essa formação é dedicada a todas as pessoas que desejam de fato aprender sobre inteligência artificial e Big Data e fazer algo com isso, profissionais de todas as áreas, porque hoje uma característica que o mercado tem é a formação de equipes multidisciplinares, de equipes com habilidades diferentes para você construir uma boa equipe de cientistas de dados, de profissionais de inteligência artificial que sejam capazes de olhar para os dados, dados que vêm de todas as áreas do saber”.
O primeiro grupo de formação do MBA é um módulo de fundamentação constituído por sete disciplinas, que vai desde linguagens, ferramentas e frameworks, aprendizado de máquina, ciência de dados, mineração de dados até gerenciamento e processamento paralelo de dados em larga escala, estatística na ciência da computação, redes neurais e deep Learning, Gestão de Dados e governança de dados. Após a fundamentação, o aluno entra no módulo avançado, onde são oferecidas oito disciplinas e o aluno escolhe cinco dessas disciplinas para fazer, de acordo com o seu interesse. São disciplinas de processamento de línguas naturais, infraestrutura de cloud, segurança computacional, engenharia de dados, redes complexas para computação, processamento analítico, inteligência analítica usando mineração de textos, análise de dados multimídia e visualização de dados.
O último grupo é o módulo de soluções, um curso de metodologia de pesquisa e projeto em Inteligência Artificial e Big Data. Este curso é dividido em quatro grandes momentos durante os 15 meses de formação, onde o aluno leva a proposta de um projeto. “O aluno identifica o estado da arte e faz uma revisão, buscando entender qual é a fundamentação necessária para desenvolver esse projeto, propondo uma solução que será desenvolvida, acompanhada e por fim terá seus resultados analisados”. Ainda de acordo com Solange Rezende, essa construção feita durante a formação do aluno vira no final a sua monografia, seu trabalho de conclusão de curso.
Além disso, neste módulo é realizado um ciclo de palestras sobre tendências e mercado em Big Data, com com convidados que estão presentes no mercado, atuando e conduzindo equipes que trabalham com IA e Big Data.
Durante o MBA o aluno conta com o acompanhamento de um grupo com 25 docentes e mais de 50 tutores, que são alunos de doutorado e outros já formados atuando como auxiliares para esses alunos, tirando dúvidas e atendendo esses alunos, além de uma equipe de mais de 60 orientadores, pessoas formadas e que atuam em inteligência artificial e Big Data, que ajudam esses alunos a construírem a solução para o problema proposto.
Solange Rezende ressalta que não há uma formação especifica para a realização do MBA. “O pré-requisito que a gente tem é o desejo de aprender. Nós já formamos médicos, cientistas, políticos, geógrafos, historiadores. Claro que se a pessoa vem de uma área mais distante, vai ter que se dedicar mais, mas a gente tem um outro diferencial que ajuda muito esse profissional, já que grande parte das aulas são previamente gravadas e entregues a cada 15 dias aos alunos. Além disso, quando o aluno termina o MBA, ele mantém o acesso ao conteúdo por mais um ano, o que é muito relevante, porque esse aluno, com mais um ano de acesso ao conteúdo, volta e revisita o que ele achou interessante, com um num nível de profundidade maior do que o que ele conseguiu fazer durante a formação”.
Considerações Finais
O I Workshop de Inteligência Artificial e Big Data é uma oportunidade única para se aprofundar em um dos temas mais importantes da atualidade. O evento é gratuito, aberto ao público, portanto, e será realizado no Center For Artificial Intelligence – C4AI, Prédio INOVA, que fica no Campus da USP em São Paulo, no dia 5 de abril, a partir das 14 horas.
Para mais informações e para se inscrever no workshop, acesse o site: https://conteudo.uspmbaiabigdata.com.br/workshop
Algumas reflexões:
- A IA e o Big Data estão transformando o mundo e o mercado de trabalho.
- A capacitação nessas áreas é essencial para o futuro profissional.
- O I Workshop de IA e Big Data é uma oportunidade para aprender com especialistas e se preparar para o futuro.
Esperamos que esta matéria tenha ajudado você a entender a importância da IA e do Big Data e a importância da capacitação nessas áreas.