Realizado entre os dias 10 e 12 de junho no Transamerica Expo Center, em São Paulo, o Febraban Tech 2025 consolidou-se como o maior evento de tecnologia e inovação do setor financeiro no Brasil. Nesta 35ª edição, o congresso bateu recorde de público, com 58 mil visitas, superando os 55 mil de 2024, e ampliou sua área em 22%, somando 24 mil m², com 271 expositores e 500 palestrantes distribuídos em mais de 200 painéis.
Com o tema central “A aceleração do Setor Financeiro na Era da Inteligência”, o evento reuniu lideranças dos setores financeiro, tecnológico e de sustentabilidade, além de especialistas renomados como Paul Romer, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, Sandy Carter, COO da Unstoppable Domains, expert em IA e blockchain e Elizabeth Bramson-Boudreau, CEO da MIT Technology Review. A presença dos principais CEOs e CIOs de grandes bancos brasileiros, como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Caixa, BTG Pactual, além de Gabriel Galípolo, Presidente do Banco Central do Brasil, marcou a importância estratégica do encontro para o futuro do mercado financeiro nacional.
Inteligência Artificial: o novo “copiloto” do consumidor financeiro
Novamente, um dos grandes protagonistas do Febraban Tech 2025 foi, sem dúvida, a inteligência artificial, que vem se consolidando como uma ferramenta prática, estratégica e transformadora no setor financeiro. Mais do que simples algoritmos de personalização, essas tecnologias — que incluem IA Generativa, Agentes de IA e assistentes virtuais avançados — atuam como verdadeiros copilotos na jornada de profissionais e do consumidor, oferecendo suporte inteligente e proativo para decisões financeiras complexas.
Durante o evento, especialistas destacaram que a IA permite não apenas responder a demandas do cliente, mas antecipá-las, projetando cenários futuros e sugerindo ações ultrapersonalizadas com base em dados comportamentais, históricos de consumo e tendências de mercado. Essa capacidade de predição marca uma mudança de paradigma: da era da personalização para a era da predição, onde bancos e varejistas deixam de reagir para se posicionar de forma proativa, criando experiências mais relevantes, contextuais e fluídas.
Além dos chatbots tradicionais, os agentes de IA — sistemas autônomos que podem interagir, aprender e executar tarefas complexas sem intervenção humana constante — começaram a ganhar espaço, especialmente em processos que exigem alta agilidade e precisão, como análise de crédito, gestão de riscos e atendimento personalizado. Esses agentes são capazes de interpretar múltiplas fontes de dados em tempo real, dialogar em linguagem natural e até negociar condições financeiras, ampliando o alcance e a eficiência dos serviços.
Um caso emblemático apresentado no evento foi o da plataforma Wynxx, da Bradesco Seguros. Ao incorporar IA generativa e agentes de IA em seus processos, a plataforma alcançou ganhos expressivos em produtividade, agilidade e inovação. Isso não apenas otimizou o atendimento ao cliente, mas também permitiu a criação de novos produtos e serviços adaptados às necessidades específicas de cada perfil. Os executivos do Bradesco ressaltaram que o sucesso dessa transformação dependeu fortemente de uma cultura organizacional aberta à inovação e de uma governança robusta para garantir ética, transparência e segurança no uso da inteligência artificial.
Este avanço tecnológico, porém, traz desafios importantes, como a necessidade de regulamentação clara, proteção de dados e combate a vieses algorítmicos. No Febraban Tech 2025, especialistas enfatizaram que o equilíbrio entre automação e supervisão humana será fundamental para garantir que a IA e os agentes de IA atuem como aliados confiáveis, ampliando a inclusão financeira e melhorando a experiência do consumidor sem abrir mão da responsabilidade social.
Em resumo, a inteligência artificial e os agentes de IA estão redesenhando o papel do setor financeiro, transformando-o em um ambiente mais inteligente, ágil e centrado no cliente. Essa revolução tecnológica, que já começa a ser aplicada em larga escala, promete redefinir a forma como consumidores e instituições interagem, trazendo benefícios concretos em eficiência, personalização e inovação.
Embedded Finance, Open Finance e tokenização: o futuro das finanças integradas na jornada do consumidor
No Febraban Tech 2025, o Embedded Finance — ou finanças embutidas — foi apontado como uma das maiores transformações do setor. Trata-se da integração direta de serviços financeiros, como crédito, seguros, carteiras digitais e pagamentos, dentro de plataformas não financeiras, como aplicativos de varejo, mobilidade ou marketplaces. Em vez de redirecionar o consumidor para um banco ou instituição financeira, esses serviços são oferecidos no próprio ambiente digital em que ele já está inserido.
Por exemplo, ao comprar um celular em um e-commerce, o cliente pode contratar um seguro ou parcelar a compra com crédito pré-aprovado, tudo sem sair do site. Essa abordagem torna a experiência mais fluida, conveniente e personalizada — e representa uma mudança significativa na forma como os serviços financeiros são distribuídos.
Para varejistas e instituições financeiras, a Embedded Finance representa um diferencial competitivo essencial, ao aumentar a conveniência e a fidelização do cliente, integrando serviços financeiros diretamente na jornada de compra e criando novas oportunidades de receita.
O avanço do Open Finance no Brasil, que amplia o compartilhamento seguro e consentido de dados financeiros entre instituições, é um dos pilares dessa evolução. A regulamentação vem se ampliando para incluir novos segmentos, como seguros, previdência e investimentos, fomentando a inovação e a oferta de serviços cada vez mais personalizados.
Paralelamente, o Drex, o real digital brasileiro, está prestes a ser implementado e promete revolucionar o sistema financeiro. Baseado em tecnologia de registros distribuídos (DLT), com suporte a smart contracts e tokenização, o Drex permitirá transações mais rápidas, seguras e automatizadas. Segundo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, o Drex facilitará o uso de garantias digitais, liberando mais crédito para a população e tornando o sistema mais inclusivo e eficiente, sem desintermediar os bancos.
A tokenização, que transforma ativos reais — como imóveis, veículos e títulos — em unidades digitais registradas em blockchain, é uma inovação complementar ao Drex. Ela permite que esses ativos sejam fracionados, negociados e usados como garantia de forma segura e transparente, por meio de contratos inteligentes. Isso abre caminho para transações atômicas, onde a transferência do ativo e do pagamento ocorrem simultaneamente, reduzindo riscos e intermediários.
No campo dos meios de pagamento, o Banco Central apresentou o PIX 2.0, com funcionalidades que aprimoram a experiência do usuário e a competitividade do sistema, como:
PIX Automático: pagamentos recorrentes com uma única autorização, facilitando assinaturas e mensalidades.
PIX por Aproximação: pagamentos via NFC sem necessidade de abrir aplicativos.
Parcelamento via PIX: opções de parcelamento diretamente pelo sistema instantâneo.
PIX Garantido: uso do histórico de pagamentos via PIX como garantia para crédito, beneficiando especialmente autônomos e pequenos empreendedores.
Essas inovações posicionam o Brasil como referência global em pagamentos digitais e finanças integradas.
Em suma, a convergência entre Embedded Finance, Open Finance, PIX 2.0, Drex e tokenização está remodelando o ecossistema financeiro brasileiro, tornando-o mais conectado, eficiente, seguro e centrado no consumidor.
Estratégias dos grandes bancos para se destacar na era digital
Os principais bancos brasileiros estão investindo de forma robusta e estratégica para liderar a transformação digital do setor financeiro, com foco em inovação, eficiência e experiência do cliente. Segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2025, os investimentos em tecnologia devem alcançar R$ 47,8 bilhões neste ano, um crescimento de 13% em relação a 2024, impulsionados especialmente por iniciativas em inteligência artificial, migração para a nuvem e segurança cibernética.
- Uso intensivo de inteligência artificial (IA): A adoção de IA é uma prioridade, com investimentos previstos para crescer 61% em 2025. Os bancos aplicam a tecnologia em análise de crédito mais precisa, atendimento automatizado 24 horas via chatbots, recomendações financeiras personalizadas em tempo real e prevenção a fraudes. Mais de 80% das instituições já utilizam IA generativa, relatando ganhos médios de 11,4% em eficiência operacional, com alguns casos superando 20%. Essa tecnologia também promove inclusão financeira ao ampliar o acesso ao crédito.
- Plataformização (Banking as a Platform): Os bancos estão criando ecossistemas digitais integrados por APIs, permitindo que desenvolvedores externos criem novas funcionalidades e ampliem a oferta de serviços financeiros, acelerando a inovação e a adaptação às demandas do mercado.
- Hiperpersonalização com dados e Open Finance: A análise avançada de dados, combinada com o compartilhamento seguro de informações via Open Finance, possibilita a customização de produtos e comunicação, aumentando o engajamento e a fidelização dos clientes. A participação no Open Finance deve crescer 65% em investimentos, ampliando o alcance e a diversidade de serviços.
- Migração para nuvem e tecnologias emergentes: A migração para ambientes em nuvem cresce 59% em investimentos, proporcionando maior agilidade, escalabilidade e segurança. Paralelamente, os bancos exploram tecnologias emergentes como computação quântica, blockchain e tokenização de ativos digitais para inovar em segurança, transparência e novos modelos de negócio.
- Foco na experiência do cliente: Cerca de 83% das instituições priorizam a experiência do cliente como diferencial competitivo, investindo em canais digitais, comunicação instantânea e interfaces cross-platform que garantem continuidade e fluidez na jornada do consumidor.
- Segurança cibernética reforçada: A cibersegurança permanece como prioridade estratégica, com quase 60% dos bancos contando com especialistas no Conselho de Administração e 40% promovendo integração entre equipes de segurança e desenvolvimento. Isso assegura que a proteção esteja presente desde o início no desenvolvimento de novos produtos e serviços, garantindo a confiança dos clientes.
- Parcerias com fintechs e ecossistemas de inovação: Para acelerar a modernização, os bancos fortalecem alianças com startups, fintechs e instituições acadêmicas, promovendo inovação aberta e acesso a novas tecnologias.
- Digitalização e automação de processos: A automação, apoiada por IA, tem reduzido significativamente o tempo de espera e aumentado a eficiência em processos como abertura de contas, concessão de crédito e transferências, melhorando a experiência do cliente e otimizando custos operacionais.
Essas estratégias refletem uma convergência entre tecnologia avançada, humanização do atendimento e compromisso com a inclusão financeira, posicionando o Brasil como referência internacional no uso de IA e inovação no setor bancário.
Sustentabilidade e governança: o papel dos bancos na transição para finanças verdes
O Febraban Tech 2025 destacou com força a liderança do setor financeiro na agenda ESG, especialmente na transição para finanças verdes e sustentáveis. A trilha temática dedicada à COP 30, que será realizada em Belém, reuniu especialistas, gestores públicos e líderes do mercado para discutir os desafios e as oportunidades dessa transformação.
Durante o painel “COP 30: Os bancos na liderança da transição para finanças verdes e sustentáveis”, o governador do Pará, Helder Barbalho, e o presidente do Banco da Amazônia, Luiz Lessa, enfatizaram o papel estratégico da região amazônica como vitrine global de soluções sustentáveis. Eles reforçaram o compromisso do setor financeiro com a neutralidade de carbono, inclusão social e o desenvolvimento econômico alinhado à preservação ambiental.
Uma das iniciativas apresentadas foi a plataforma Ambify, da multinacional brasileira Ambipar, que democratiza o acesso à compensação de carbono. Por meio de um aplicativo que utiliza tecnologias disruptivas como blockchain, a Ambify permite que tanto grandes corporações quanto consumidores comuns calculem e compensem suas emissões de CO₂ com créditos certificados, promovendo transparência e rastreabilidade.
Além disso, a Ambipar está investindo em parcerias estratégicas para ampliar o acesso ao crédito verde, especialmente para pequenas e médias empresas, simplificando processos e incentivando práticas sustentáveis. Novos produtos voltados à democratização do mercado de carbono e à redução do greenwashing estão previstos para lançamento ainda em 2025.
O Febraban Tech 2025 também foi certificado como evento carbono neutralizado e resíduo zero, refletindo o compromisso prático do setor financeiro com a sustentabilidade ambiental.
Essas discussões reforçam que a governança ambiental, social e corporativa (ESG) não é apenas uma tendência, mas uma prioridade estratégica para os bancos brasileiros, que buscam alinhar inovação tecnológica, responsabilidade social e preservação ambiental para construir um mercado financeiro mais justo, inclusivo e sustentável.
Insights e perspectivas para o mercado financeiro brasileiro
O Febraban Tech 2025 deixou claro que a transformação digital no setor financeiro já não é uma tendência futura, mas uma realidade consolidada e em rápida evolução. Tecnologias como inteligência artificial generativa, Open Finance, tokenização de ativos e a contínua evolução dos meios de pagamento digitais formam a base que moldará o futuro do mercado brasileiro.
Um dos pontos centrais do evento foi a integração fluida entre tecnologia avançada e atendimento humano — o chamado modelo “phygital” — que busca equilibrar eficiência operacional com empatia e personalização na experiência do cliente. Essa convergência é vista como essencial para que instituições financeiras mantenham relevância e competitividade.
Comparado à edição anterior, o crescimento do público, a ampliação da área do evento e a diversidade das trilhas temáticas refletem o amadurecimento do setor e a expansão do ecossistema de inovação no país. O Brasil segue como referência internacional em pagamentos digitais, impulsionado por iniciativas como o PIX 2.0 e o Drex, e avança rapidamente na adoção de tecnologias emergentes.
Os grandes bancos brasileiros, por sua vez, assumem papéis cada vez mais proativos, investindo em inteligência artificial, plataformas abertas, segurança cibernética e parcerias com fintechs para se manterem competitivos frente a novos entrantes e às demandas de um consumidor cada vez mais digital e exigente.
Em síntese, o Febraban Tech 2025 consolidou o Brasil como um dos mercados financeiros mais inovadores do mundo, com um ecossistema robusto e dinâmico que combina tecnologia, regulação inteligente e foco no cliente para impulsionar o crescimento sustentável do setor.