Tem dúvidas sobre o uso de SSD – Solid-State Drive? Confira a entrevista exclusiva com Iuri Santos, Especialista em Tecnologia da Kingston

Como já publiquei aqui, passei pela experiência de trocar o HD do meu notebook por um SSD UV400 da Kingston. Durante este processo, tive a oportunidade de entrevistar o Especialista em Tecnologia da Kingston, meu xará Iuri Santos, que esclareceu sobre as diferenças entre as tecnologias, questão do preço, durabilidade e confiabilidade e muitas outras informações sobre o uso do SSD e a substituição de unidades de disco rígido por unidades de estado sólido.

Entrevista com Iuri Santos – Especialista em Tecnologia da Kingston

1 – Alguns anos já se passaram desde a chegada dos SSD ao mercado nacional, porém ainda vemos que o uso de HDD domina, enquanto os SSD continuam com oferta de capacidade limitada, assim como preços mais elevados, em comparação com a tecnologia concorrente. O que falta para a adoção massiva de SSD no Brasil?

O SSD é uma tecnologia bem mais recente que o HD, que já tem mais de 50 anos. O SSD vem trazendo a tecnologia NAND, que já era usada em pen drives e cartões de memória, numa escala de mais performance, para um armazenamento mais massivo. O custo desta tecnologia vem caindo ano após, sendo que nos últimos dois anos tivemos uma estagnação deste valor, graças justamente a migração tecnológica, que permitirá que em aproximadamente 3 a 4 anos possivelmente acontecerá uma inversão de valores em relação ao custo por GB.

No Brasil a adoção acaba sendo prejudicada por alguns fatores, como a estrutura tributária para equipamentos comprados aqui. As fabricantes possuem benefícios fiscais quando usam componentes fabricados nacionalmente, porém os SSD ainda são, em sua grande maioria, importados. Certamente o usuário que conhece os benefícios do uso do SSD, ao comprar seu equipamento, vai querer fazer o upgrade, que seja aproximadamente R$ 300,00 a mais que você está investindo, vai ter um computador, um notebook com uma performance muito superior.

O usuário que conhece os benefícios do uso do SSD, ao comprar seu equipamento, vai querer fazer o upgrade, que seja aproximadamente R$ 300,00 a mais que você está investindo, vai ter um computador, um notebook com uma performance muito superior.

A velocidade com relação ao upgrade, que é o caminho natural que tem sido adotado aqui no Brasil para a migração para o SSD, tem aumentado, pois cada vez mais pessoas têm adquirido o conhecimento dos benefícios do upgrade, já que o HD acabou se tornando um grande gargalho para a evolução do desempenho computacional. Assim, temos casos de computadores com quase 10 anos, que ganharam sobrevida, com o aumento da performance, simplesmente com a troca do HD pelo SSD. Então aos poucos, a medica que a população entender os benefícios, vai perceber que essa diferença de preço por GB na verdade não é o parâmetro mais correto pra se avaliar, pois você pega pra ver hoje no mercado, o SSD mais barato tem um custo menor do que o HD mais barato. Então se você tem que trocar o HD por algum problema, e sendo um dispositivo mecânico ele vai dar problema, a questão é apenas quando vai dar problema, a opção pela troca por um SSD acaba sendo a melhor, garantindo assim um computador muito melhor do que quando foi comprado, e isso é uma coisa que tem acontecido cada vez mais.

2 – Como você disse, o SSD é uma tecnologia mais recente. Era comum se questionar a durabilidade e a confiabilidade dos SSD. Isso ainda acontece nos dias de hoje?

Este é um fato que muita gente questiona, vem desde a época do lançamento dos SSDs, porém boa parte das informações vinham das próprias empresas fabricantes de HDs, que vendo uma nova tecnologia surgindo, ainda mais que na época era muito mais caro e inacessível, impedia que as pessoas pudessem testar e conferir os benefícios, fizeram diversos estudos com o objetivo de colocar em xeque a durabilidade e confiabilidade em relação aos SSDs, criando assim uma série de mitos, isso lá em 2008/2009, quando o SSD começou ao chegar ao mercado consumidor.

Estas histórias, porém, não são factuais, já que alguns estudos da época eram feitos em condições extremas, já com o objetivo de reduzir a vida útil do componente, mas isso não se aplica a realidade de nenhum usuário, nem no passado e muitos menos hoje. Porém, quando os estudos foram divulgados, acabaram por colocar um medo na população com relação a durabilidade.

Outro fator que aconteceu naquela época, com a primeira geração de SSD, inclusive antes da Kingston entra nesse mercado, é que a tecnologia NAND que se tinha para armazenamento era baseada realmente em Pen Drive e cartão de memória, era um dispositivo simples, que não era programado para a instalação de sistemas operacionais. Ou seja, havia pouco conhecimento naquela época de como fazer a tecnologia NAND suportar a carga de operação de um sistema operacional. Então, quando o armazenamento estava próximo da capacidade total do SSD, que possuía uma capacidade muito menor na época, um pequeno espaço era reservado para operações de arquivo, e à medida que o usuário realizava suas atividades, apagando, copiando e salvando arquivos, era essa área livre do chip que era regravada, sempre no mesmo ponto, desgastando o chip, fazendo a unidade apresentar falha num período curtíssimo, reforçando o mito de que SSDs duram pouco.

Acontece, que pouco depois que este problema foi observado, já foi corrigido, ao ponto que hoje, se você pega um SSD, independente de ela estar cheio, há um espaço dele que é sempre reservado. Ou seja, um SSD de 240 GB, por exemplo, tem na verdade uma capacidade de 256 GB em chip, para que se tenha justamente espaço de sobra para nunca ficar regravado informações num mesmo ponto, gerando um equilíbrio do desgaste do chip, tornando assim os SSD extremamente duráveis. A cada geração de SSDs, a tendência é utilizar chips NAND de maior capacidade de armazenamento, mas não necessariamente com a vida útil que se tinha no início. Se pega um SSD hoje, o mais simples, com a menor capacidade, todos eles tem uma especificação que a gente chama de TBW (Terabytes Written), que é a medida da vida útil de um SSD, que supostamente significa quantos Terabytes podem ser escritos na unidade antes dela apresentar alguma falha. Porque suspostamente? Porque na verdade este é um cálculo super rigoroso, sendo que se imagina na verdade que seja de 3 a 4 vezes mais dados do que é especificado. Mesmo assim, se você pegar essa informação de TBW e dividir, por exemplo, por 3 anos, que seria o tempo de garantia de um SSD da Kingston, nesse período você precisaria todos os dias gravar 60 GB de dados novos para atingir esta saturação no período de 3 anos, ou seja, é muita informação para um usuário gravar, para chegar no ponto de se ter algum risco de falha no período.

A última vez que eu vi estáticas sobre falha de HDs estavam girando em torno de cerca de 60% apresentando algum tipo de falha no prazo de 3 anos, então hoje estamos falando de uma realidade onde é praticamente improvável um SSD apresentar algum tipo de falha neste mesmo período de tempo. Ou seja, na verdade não é uma tecnologia frágil, e sim mais resistente, mais robusta. Mantendo o cálculo que fizemos acima, ainda de forma muito conservadora, mas considerarmos um usuário comum, ainda que seja um heavy user, que grave aproximadamente 5 GB de dados por dia, você vai levar mais de 30 anos para atingir a saturação da vida útil, quer dizer, nem o computador será mais funcional nessa época.

Então, comparação de vida útil de um elemento mecânico, sujeito a falha por qualquer tipo de vibração, impactos, queda de energia, contra tudo isso o SSD é testado e programado para suportar.

3 – Já que estamos falando sobre esta possibilidade de falhas, ainda que inferior nos SSD, quando um HD apresenta determinados tipos de falhas, existe uma certa facilidade, ainda que se recorra a especialistas, na recuperação de dados. A mesma coisa acontece com os SSDs?

Sim. Se houver alguma falha, num cenário mais extremo, ainda que seja difícil de acontecer, como por exemplo, a queima do SSD, apresentação de alguma falha do controlador, neste caso existem sim empresas especializadas que podem fazer a remoção do chip do SSD e realizar a extração desses dados. Num cenário menos extremo, caso haja alguma falha no Sistema Operacional, vírus, MBR ou trilha 0 corrompidos, ou seja, algum problema de particionamento ou boot, mas o SSD ainda está funcional, qualquer software desses que fazem recuperação de dados de unidades de disco podem ser utilizados com sucesso.

4 – Nos testes que tenho realizado com o SSD fornecido pela Kingston, o desempenho é realmente muito superior ao do HD. Você poderia explicar, de forma simples e acessível ao nosso público, porque e como isso acontece?

Pra explicar as diferenças, é importante falar rapidamente das duas tecnologias. Simplificando, a gente pode imaginar o HD como um disco de vinil, então quando você vai ler uma informação nele, você um disco, literalmente, por isso disco rígido, tem um leitor, que no caso do vinil seria a agulha, que precisa localizar fisicamente a posição dos dados. Isso gera uma certa lentidão, pois o leitor precisa de deslocar fisicamente na varredura de dados, e quanto mais operações, mas lento pode ser este processo.

Já no SSD, você tem simplesmente o processador da unidade, chamado de controlador, e os chips de memória. Então a informação está ali, com as posições dos dados definidas e quando você clica pra abrir um programa, por exemplo, você não tem que esperar o leitor chegar no ponto do disco físico onde está o programa pra começar processar, ele vai simplesmente carregar o programa. Se alguma outra coisa acontecer ao mesmo tempo, ele não precisa parar de ler uma informação e se deslocar até outro ponto, ele vai ler ao mesmo tempo.

Uma das medidas de velocidade, que podem exemplificar bem a diferença entre HD e SSD, é o número de operações de entrada e saída por segundo, o chamado IOPS (Input/Output per Second), uma informação que no caso do HD, geralmente não é passada para o usuário, a não ser em casos de HDs de servidores, mas geralmente em HDs temos resultados que giram em torno de 50 IOPS até 100 IOPS aproximadamente, dependendo do modelo da unidade. Já no caso do SSD, esse número gira em torno de 20.000 IOPS, ou seja, estamos mudando completamente de escala. Então é possível sentir a diferença, não só pela velocidade sequencial, mas pela quantidade de coisas que podem ser processadas por segundo num SSD, que um HD, sendo uma unidade física, não consegue acompanhar.

5 – Além desta questão da velocidade, que certamente é a mais notável pra qualquer pessoa que faça a experiência, existem outras vantagens na troca de um HD por um SSD?

Pra quem usa notebook, a autonomia é um outro ponto muito relevante. Um notebook hoje já é uma plataforma super econômica em termos energéticos, principalmente se comparado ao cenário de antigamente. Hoje temos fontes que consomem de 15 a 30 W. Um HD Green, que é a opção mais econômica em termos de consumo energético, consome em média 3 W, um número expressivo no consumo geral do notebook. Já um SSD, dependendo do modelo, possui um consumo médio que está em torno de 1,5 W, o que significa uma redução significativa, que pode significar de 30 minutos a 1 hora até de bateria, sem contar que a questão da velocidade acaba sendo muito importante também, já que as tarefas serão realizadas em muito menos tempo, utilizando menos a bateria.

6 – Seja por conta da capacidade inferior do SSD, ou para aumentar a capacidade de armazenamento total, utiliza-se o Caddy, para trocar a unidade óptica por uma unidade de HD adicional. Existe alguma problema neste tipo de substituição?

O Caddy é um adaptador com uma conexão SATA, que permite sua conexão diretamente na placa mãe, no lugar do leitor de DVD/CD

Ter a possibilidade de fazer essa substituição no notebook para conseguir manter o HD para armazenamento secundário é sempre válido, não atrapalha em nada nem a performance do SSD e nem a do sistema. As duas recomendações que podemos dar são as seguintes:

    • Mantenha nesta unidade secundária apenas dados e arquivos que não serão usados constantemente, mantendo softwares e dados de uso frequente no SSD, para que a performance não seja afetada, já que o sistema teria que fazer buscar ou executar processos no HD, reduzindo assim a vantagem em termos de velocidade do uso do SSD.
    • Backup de todos os dados e arquivos importantes, sempre. Esta é uma recomendação importante, independente da unidade, seja SSD, HD ou qualquer outro local onde se tenha dados armazenados. Tenha um local adicional para armazenar cópias de tudo o que for importante pra você.

7 – Qual é a perspectiva para o mercado de SSD no Brasil para os próximos anos?

A gente prevê sempre crescimento, principalmente à medida que o custo por GB for caindo. Enquanto não cai, temos que conscientizar as pessoas que ter mais espaço não significa ter um computador melhor. Colocar um SSD na máquina gera uma experiência disruptiva, o computador melhor significativamente, as necessidades de formatações diminuem, assim como as necessidades de manutenção.

Para os próximos anos a gente prevê o crescimento da capacidade e o preço se estabilizando, aumentando assim a adoção por parte dos usuários. Isso é algo que lá fora já está bem mais equiparado, porém o Brasil ainda tem barreiras a serem superadas, em relação a tributação, variação cambial, margem de lucro e outros desafios.

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